
• A demanda de nutrientes é influenciada por fatores como cultivares e condições de clima e de solo.
• O conhecimento da demanda versus as quantidades disponíveis no solo permitem estimar a necessidade de fertilizações.
• O entendimento do padrão de absorção ao longo do ciclo é importante para a proposição do manejo correto e alcance da maior produtividade.
A curva de absorção
A demanda de nutrientes é influenciada por fatores como cultivares e condições de clima e solo, onde as plantas são cultivadas. Este Manejo em Foco tem como objetivo expor o trabalho realizado para quantificar a extração (demanda) de nutrientes nas condições de campo. É importante o conhecimento da demanda, que confrontada com as quantidades disponíveis no solo permitem estimar a necessidade ou não de fertilizações.
Além da demanda, conhecer a curva de absorção é importante. Isso porque a curva de absorção permite ao agricultor/técnico escolher a melhor época e doses dos fertilizantes a serem aplicadas. Assim, são aplicadas doses condizentes com a extração da cultura em determinado intervalo de tempo, minimizando perdas no sistema solo-planta-atmosfera e desequilíbrios iônicos no solo. O entendimento do padrão de absorção ao longo do ciclo dos nutrientes por novas cultivares é importante para a proposição do melhor manejo da adubação e alcance da maior produtividade.
Metodologia
O híbrido Red Heaven foi semeado em 09/08/2018, com espaçamento de 2,8 m entre linhas e 0,8 m entre plantas, de modo a se obter população final de 4.464 plantas/ha, e colhido entre 05 e 26 de novembro de 2018. As amostragens foram realizadas em área de cultivo da Estação Experimental do Instituto de Pesquisa Agrícola do Cerrado (IPACER) no município de Rio Paranaíba – MG, com altitude de 1.050 m.
Os acúmulos de nutrientes foram determinados pelo produto entre a produção de matéria seca obtida em cada amostragem e os teores dos nutrientes no tecido vegetal. As curvas de absorção foram geradas plotando-se o conteúdo de nutrientes nas folhas, caule, frutos verdes + flores e frutos comerciais em cada época de amostragem para cada nutriente.
Resultados e observações
A melancia Red Heaven alcançou 12,469 kg/planta, equivalente a 55,67 t/ha. O acúmulo máximo de matéria seca (MS) (tabela 1) foi de 599,3 g/planta, o de flor + frutos verdes de 321,2 g/planta, o de frutos comerciais de 848,3 g/planta e o de planta inteira de 1448,8.
A proporção da MS entre os componentes da planta indica alta partição para os frutos. Como a partição de MS (e de nutrientes) é elevada para os frutos, caso o suprimento de nutrientes não seja satisfatório, rapidamente há exaustão de nutrientes nas folhas, o que leva a senescência precoce com redução do ciclo e com consequente redução da produtividade.

Os nutrientes mais acumulados pela Red Heaven foram o K, N, Ca e P (Tabela 2).




Potássio:
O acúmulo de K atingiu 72,8 g/planta de K2O, sendo 34,29 g/planta a quantidade exportada com os frutos e 38,51 g/planta.
As quantidades de K nos frutos comerciais e na planta inteira representam 153 e 325 kg/ha de K2O para a população de 4.464 plantas por ha (espaçamento de 2,80 x 0,80 m).
Assim, são necessários cerca de 172 kg/ha de K2O para a formação do componente vegetativo da planta. Devido ao sistema radicular comumente restrito, é interessante aplicar parte do K no sulco de semeadura (ou covas) e o restante parcelado em coberturas. Para cultivos em solos argilosos é possível aplicar entre 30 e 50% do K incorporado ao solo na região do sulco (ou cova). É interessante que essa incorporação seja a pelo menos 30 cm de profundidade e 30 cm de largura para que haja adequado volume de solo fertilizado. O restante do K pode ser aplicado em fertirrigações semanais até aproximadamente 45% do ciclo da cultura (momento em que os primeiros frutos iniciaram o pleno crescimento). O K alocado nos frutos comerciais (34,29 g/planta ou 153 kg/ha de K2O) deve ser aplicado parceladamente.
Para cada kg de frutos de expectativa de produtividade aplicar 2,75 g/planta de K2O. É interessante aplicar essa adubação parceladamente. Os primeiros frutos iniciaram-se em 45% do ciclo da cultura. Assim, pouco antes dessa fase iniciar as aplicações de K e seguir semanalmente (ou até com intervalos menores) encerrou a adubação referente aos frutos 10 dias antes do término das colheitas.
Nitrogênio:
As quantidades de N nos frutos comerciais e total representam 78 e 163 kg/ha de N para a população de 4.464 plantas por ha (espaçamento de 2,80 x 0,80 m).
O N referente acumulado nos frutos comerciais (17,37 g/planta ou 78 kg/ha de N) deve ser aplicado parceladamente. Para cada kg de frutos que se espera produzir aplicar 1,39 g/planta de N (aproximadamente metade da quantidade de K2O). É interessante que a aplicação do N para formação dos frutos comerciais também seja parcelada para melhor aproveitamento dos fertilizantes e para evitar desequilíbrios iônicos no solo que possam comprometer outros nutrientes.
Fósforo:
O P sofre efeito deletério do tempo sobre a disponibilidade no solo. Desta forma, renovar o P-solúvel com aplicações em fertirrigação é interessante para manter altas concentrações do nutriente no ambiente radicular.
A deficiência de P contribui para acelerar a senescência foliar e com isso há perda de potencial produtivo. Além do efeito negativo do tempo sobre o P, grande parte desse nutriente é acumulada nos frutos comerciais, o que reforça a necessidade de aplicações de P em fertirrigação a medida em que se realizam as colheitas.
Diferente do comentado para N e K, não é possível relacionar apenas a exportação pelos frutos com a quantidade de P a ser aplicada, pois as interações de P com o solo são mais definidoras da adubação que a extração da planta. A planta exporta 0,647 g de P2O5 por kg de frutos colhidos.
No caso do cultivo que originou a curva de absorção, realizado em solo argiloso, foram aplicados em fertirrigação 2,01 g de P2O5 por kg de frutos colhidos. Considerando o ciclo curto da melancia e sistema radicular frágil, a taxa de recuperação é, provavelmente, inferior a 25% em solos argilosos. Isso resulta em ótima dose estimada de 500 kg/ha de P2O5 nos solos argilosos de baixa fertilidade. Nos solos arenosos de baixa fertilidade, menos tamponados para P, pelo menos 300 kg/ha de P2O5.
Cálcio:
Para cada kg de frutos produzidos são removidos 0,35 g de Ca. Mesmo com boa correção de solo via calcário, é salutar o fornecimento desse nutriente em cobertura para manter alta a concentração no bulbo molhado (no caso de cultivo por gotejamento) e para evitar prejuízos na absorção de Ca advindos das altas doses de K necessárias.
Realizar fornecimento extra de Ca na linha com elevação das saturações de Ca via corretivos de acidez.
Magnésio:
A extração de Mg não foi tão alta comparada com o N, P, K e Ca (tabela 2 e gráfico 1). No entanto, atenção especial deve ser dada a esse nutriente, pois na sua carência a planta é mais sensível ao ataque de patógenos e é mais acometida de estresse oxidativo.

Figura 1 Padrão dos frutos colhidos da melancia Red Heaven. IPACER, Rio Paranaíba – MG (2019).
As altas quantidades de K necessárias podem induzir deficiência de Mg, mesmo que esse seja pouco absorvido. Deve-se realizar procedimento de calagem que promova elevação do Mg para no mínimo 1,0 cmolc/dm³.
Caso os teores de Ca sejam elevados e a planta tenha expectativa de alta produtividade, aplicações suplementares de sulfato de magnésio devem ser consideradas no programa de adubação.
Enxofre:
A extração de S foi a menor dentre os macronutrientes. A correção de P via superfosfato simples, que contém de 10 a 12% de S e uso de sulfatos (sulfato de amônio, zinco, potássio ou magnésio) praticamente eliminam possibilidades de carência desse nutriente para a melancia.
Micronutrientes:
Os micronutrientes mais acumulados pela melancia Red Heaven foram o Fe e B (tabela 2 e gráfico 3). O alto acúmulo, no caso do Fe, pode ser reflexo de contaminação, pois a curva de absorção de nutrientes foi realizada com cultivo em solo. O B tem alta mobilidade no solo e partição preferencial para frutos. A aplicação de parte do B em semeadura e parte em fertirrigação pode ser a melhor estratégia de manejo para esse nutriente.
Sugere-se aplicar pelo menos 1 kg/ha de B em solos com alta disponibilidade de B (B > 0,60 mg/dm³) e entre 1,5 e 2,0 kg/ha de B nos solos de baixa fertilidade nesse nutriente. Metade da dose de B pode ser aplicada juntamente com os fertilizantes de plantio e utilizando fontes de boa solubilidade, como a ulexita por exemplo. A fração do B aplicada em cobertura deve ser realizada em várias aplicações e com fontes mais solúveis como ácido bórico (em cultivo irrigado por gotejamento) ou ulexita (misturada aos nitrogenados ou potássicos de cobertura).
Importante considerar que a alta produtividade de frutos acarreta em alta remoção de nutrientes e por isso deve ser estabelecido um programa de adubação que considere a disponibilidade de nutrientes no solo e os dados de extração apresentados nessa pesquisa. No entanto, o programa de adubação não deve focar apenas na aplicação dos nutrientes, mas principalmente, no aproveitamento deles. O aproveitamento (e garantia de alta produtividade) precisa, sobretudo, de abundante crescimento do sistema radicular. O bom crescimento de sistema radicular requer correções nas limitações químicas, físicas e biológicas do solo. Dentre as limitações químicas citam-se a alta disponibilidade de Al3+ e a baixa disponibilidade de Ca2+. Essas limitações podem ser contornadas com incorporação profunda de calcário e em alguns casos, adição de gesso junto com calcário na fase de correção.
Conclusões - IPACER
1. Os nutrientes mais acumulados pela melancia Red Heaven foram o K e N e cada kg de frutos demandam 2,93 g de N e 5,84 g de K2O, dos quais são exportados 1,39 g de N e 2,75 g de K2O;
2. Para a maioria dos nutrientes a demanda está relacionada com a formação dos frutos. A aplicação parcelada de nutrientes compatibiliza a disponibilização no solo com a absorção da planta evitando perdas de nutrientes no solo;
3. Sugere-se atenção especial para formar sistema radicular condizente com alta demanda de nutrientes. As limitações como compactação, altos teores de Al e baixos de Ca e P, além de nematoides, devem ser corrigidas no solo para o sucesso da cultura da melancia.
Fontes
1. IPACER - Instituto de Pesquisa Agrícola do Cerrado. 2018. Curva de acúmulo de nutrientes pela melancia RED HEAVEN - Safra 2018. Rio Paranaíba, MG.
Para informações agronômicas adicionais, entre em contato com seu representante de sementes local. Desenvolvido em parceria com o departamento de Tecnologia, Desenvolvimento, e Agronomia pela Bayer.
Em todas as resistências foram utilizados os nomes científicos das doenças e pragas. Para mais informações sobre nome popular, sintomas, danos econômicos e presença da doença/praga na sua região consulte técnicos locais. Todas as informações sobre os híbridos/variedades e seu desempenho, fornecidas oralmente ou por escrito pela D&PL do Brasil LTDA. (produtos com a marca Seminis), seus funcionários ou representantes, são dadas de boa fé e não como garantia da D&PL do Brasil LTDA. quanto ao desempenho dos híbridos vendidos. O desempenho pode depender de condições climáticas, de solo, de manejo e outros fatores. A agressividade de doenças e pragas é altamente influenciada por condições ambientais, histórico da área e pela variabilidade biológica, exigindo um manejo integrado que considere diferentes medidas e ações. A resistência genética é apenas uma ferramenta dentro deste contexto.