
Jorge Hasegawa, MD. Bayer Vegetable Seeds.
O que é?
A Murcha-bacteriana é uma doença de solo que causa murchadeira nas plantas afetadas. É causada pela bactéria de solo Ralstonia solanacearum em condições de temperatura e umidade elevadas.
Como identificar?
Para se evitar confusões com outras doenças que causam sintomas parecidos, a identifi cação correta deve ser feita em laboratórios especializados, como os das universidades ou institutos de pesquisa. De uma maneira geral, a Murcha-bacteriana causa sintomas de murchadeira com as plantas ainda verdes, começando pelo ponteiro da planta. Além disso, é importante realizar o teste do copo e verifi car um escorrimento leitoso que sai do caule das plantas infectadas.
Como realizar o teste do copo?
Ao identifi car plantas com sintoma de murchadeira verde, corte um pedaço de 5 cm do talo na altura do colo das plantas, logo acima da inserção das raízes. Prenda o talo cortado em um copo com água e espere cerca de 10 minutos para observar se há um escorrimento leitoso no talo. A presença deste escorrimento é determinante na identifi cação da Murcha-bacteriana.

Em teste do copo, o escorrimenro leitoso constata infecção da planta.
Como ocorre a doença no campo?
É uma doença de solo que se inicia em plantas isoladas ou em pequenos grupos, que podem tomar grandes áreas contínuas.
Faço rotação de culturas e não repito o cultivo em áreas anteriores de tomate. Estou livre da doença?
Essas medidas são importantes, mas não garantem a ausência do problema. A Ralstonia solanacearum infecta mais de 200 espécies de plantas e tem elevada capacidade de sobrevivência no solo. Além do tomate, algumas culturas importantes que são atacadas pela bactéria são a batata, o eucalipto, o maracujazeiro, a banana, o pimentão e o fumo, entre tantas outras.
Eu sei que a minha área tem histórico de problemas de Murcha-bacteriana. A utilização de porta-enxertos resistentes é garantia de sucesso?
A utilização de porta-enxertos resistentes como uma medida isolada de manejo da doença não é garantia de resultados satisfatórios. Como a bactéria apresenta alta variabilidade e depende do ambiente, há a necessidade de adotar um manejo integrado, inclusive evitando áreas com elevada pressão da doença.
Por que um porta-enxerto dito “resistente” pode apresentar sintomas de Murcha-bacteriana?
A resistência é comparativa, variando de pouco resistente a altamente resistente, e depende da raça de Ralstonia solanacearum presente na área. É completamente diferente do conceito de imunidade, em que a doença não ocorre de jeito nenhum.
Como manejar a Murcha-bacteriana?
Por ser um complexo, o manejo da Murcha-bacteriana exige a aplicação de um conjunto de técnicas e ações integradas. A enxertia com porta-enxertos resistentes é apenas uma ferramenta a mais. Antes, é necessário avaliar o histórico da doença na área e na região da instalação da cultura, escolher áreas com baixa pressão da doença, especialmente aquelas submetidas a rotação de culturas com espécies nãohospedeiras, promover o desenvolvimento de uma fl ora microbiana benéfi ca no solo, melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo para o estabelecimento de um sistema radicular sadio e forte e adotar boas práticas agrícolas no pós-transplante das plantas enxertadas, evitando o aterramento na região da cicatriz da enxertia, como um exemplo.
Saiba mais:
A Murcha-bacteriana, causada pela bactéria habitante do solo Ralstonia solanacearum, é uma doença de alto poder destrutivo, típica de clima tropical, que apresenta grande diversidade fenotípica e genotípica, motivo pelo qual se deve manejá-la como um complexo. Na cultura do tomate, a doença ocorre desde o Amazonas até o Rio Grande do Sul e apresenta alta variabilidade na capacidade de causar doença em diferentes espécies de solanáceas, atacando inclusive plantas de outras famílias botânicas como o eucalipto e a bananeira. Devido à sua natureza complexa, cultivares de tomate apresentam respostas diferentes de defesa aos diferentes isolados que ocorrem no Brasil. Sob condições favoráveis à doença, a área pode se tornar inviável a partir do terceiro ano consecutivo de cultivo do tomateiro. A doença pode surgir em terrenos novos, recém desmatados ou após vários anos de rotação de culturas e o controle é difícil depois que se manifesta, exigindo a adoção de medidas de controle preventivas integradas. O uso de porta-enxertos resistentes é efetivo quando a pressão da doença não é alta, de maneira que se deve evitar solos altamente infestados.
A enxertia deve ser precedida pela redução da população bacteriana no solo por meio de rotação de culturas, solarização ou outras medidas complementares (INOUENAGATA, A. K. et al., 2016).
O controle da murcha-bacteriana, que se caracteriza fundamentalmente como uma função epidemiológica, é um problema essencialmente populacional (BERGAMIN FILHO, A.; AMORIM, L., 2018). Os métodos de controle seguem uma sistematização conhecida como princípios de Whetzel, baseados em práticas que conduzam à exclusão e à erradicação do patógeno, à proteção, imunização e terapia do hospedeiro e à evasão de áreas já contaminadas, assim como na regulação do ambiente de cultivo. Dentro das limitações e das oportunidades da atual tomaticultura brasileira, que é desenvolvida em sua maioria em condições de cultivo em campo aberto, os princípios de Whetzel que mais se adequam são:
1. Evasão:
Consiste em se evitar o plantio do tomate em áreas com histórico ou suspeita de ocorrência da murcha-bacteriana. É um princípio poderoso, porque trata-se de uma fuga de locais já contaminados.
2. Exclusão:
Trata da prevenção da entrada do patógeno e é também um princípio de altíssimo impacto. Nesse sentido, a utilização de mudas sadias, o controle do trânsito de pessoas e de ferramentas e maquinários de áreas infectadas para as indenes e a captação de água de irrigação de fontes seguras são práticas que promovem a exclusão do patógeno.
3. Erradicação:
Baseia-se na eliminação do patógeno de uma área em que já houve a introdução da doença. A solarização, rotação de culturas com espécies não-hospedeiras e a eliminação de plantas já doentes e hospedeiras voluntárias e alternativas são bons exemplos de práticas de erradicação. Uma prática que se destaca atualmente é o manejo microbiológico do solo com micro-organismos benéfi cos antagonistas, que promovem a diminuição do potencial de inóculo do patógeno no solo.
4. Proteção:
Caracteriza-se por evitar o contato da bactéria com a planta de tomate. Exemplo comum na tomaticultura, especialmente no caso de cultivo protegido, é a utilização de calhas, vasos ou slabs, que evitam o contato das raízes do tomateiro com o solo infectado.
5. Imunização:
Preconiza a utilização de cultivares resistentes. No caso da tomaticultura, a adoção de híbridos de porta-enxertos resistentes é uma prática comum e efetiva dentro de um manejo integrado. Entretanto, é também bastante comum que se confunda resistência com imunidade neste caso. Por causa da grande variabilidade biológica da bactéria Ralstonia solanacearum e da dependência de fatores ambientais na sua agressividade, híbridos de porta-enxertos resistentes podem expressar níveis diferentes de sintomas da doença. Quando utilizados como medida única de controle, estes porta-enxertos podem mostrar resultados insatisfatórios, dada a exigência de um manejo racional integrado da doença.
6. Regulação:
Fundamenta-se na alteração dos fatores do ambiente. Um excelente programa nutricional, evitando-se excessos de nitrogênio, e um manejo de solo que previna encharcamentos e promova o desenvolvimento da microbiota benéfi ca são bons exemplos de práticas de regulação. No caso da terapia, por se tratar de plantas já doentes, com processo infeccioso que causa murcha no tomateiro, a terapia tem aplicação prática nula no combate à Murchabacteriana.
Para mais detalhes, consulte:
Jorge Hasegawa. Desenvolvimento de Mercado para Tomates. Bayer Vegetable Seeds. E-mail: jorge.hasegawa@bayer.com
Fonte:
BERGAMIN FILHO, A.; AMORIM, L. Princípios gerais de controle. In: AMORIM, L.; REZENDE, J. A. M.; BERGAMIN FILHO, A. (ed). Manual de Fitopatologia: princípios e conceitos, v. 1, 5 ed., Ouro Fino, MG, Ceres, cap. 14, p. 215 - 228, 2018.
INOUE-NAGATA, A. K. et al. Doenças do tomateiro. In: AMORIM, L.; REZENDE, J. A. M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L. E. A. (ed). Manual de Fitopatologia: doenças das plantas cultivadas, v. 2, 5 ed., São Paulo, Ceres, cap. 70, p. 697 - 731, 2016.
Em todas as resistências foram utilizados os nomes científicos das doenças e pragas. Para mais informações sobre nome popular, sintomas, danos econômicos e presença da doença/praga na sua região consulte técnicos locais. Todas as informações sobre os híbridos/variedades e seu desempenho, fornecidas oralmente ou por escrito pela D&PL do Brasil LTDA. (produtos com a marca Seminis), seus funcionários ou representantes, são dadas de boa fé e não como garantia da D&PL do Brasil LTDA. quanto ao desempenho dos híbridos vendidos. O desempenho pode depender de condições climáticas, de solo, de manejo e outros fatores. A agressividade de doenças e pragas é altamente influenciada por condições ambientais, histórico da área e pela variabilidade biológica, exigindo um manejo integrado que considere diferentes medidas e ações. A resistência genética é apenas uma ferramenta dentro deste contexto.